sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Barroco - Gregório de Matos

A instabilidade das coisas do mundo
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Gregório de Matos



Análise
Um importante e conhecido poema lírico-filosófico do barroco é "A Instabilidade das Coisas do Mundo", de Gregório de Matos. Nele, é discutido a passagem do tempo, a inconstância da natureza e a do homem, as incertezas da vida que todos nós temos e a instabilidade das coisas. Ainda é composto por dois quartetos e dois tercetos, característicos do barroco.
Na primeira estrofe, o autor apresenta várias antíteses (outro componente presente nas obras barrocas), como vida e morte, claro e escuro, feio e belo, tristeza e alegria. É passado para o leitor nessa parte que a vida é bela, porém não é eterna, e que depois de toda essa alegria vem a tristeza, a temida morte. 
Na segunda estrofe, é apresentado uma série de perguntas sem respostas concretas, que geram dúvidas e incertezas, no maior sentido filosófico possível. Caracterizando as questões que pairavam sobre o homem naquela época.
A estrofe seguinte tem mais uma antítese (alegria e tristeza). E fala sobre a inconstância da vida e da falta de alegria que o indivíduo sente mesmo estando vivo.
O autor afirma na quarta e última estrofe que o fato de existir a vida e a morte é pelo bem da natureza, e que a única coisa certa nessa vida é que nada é constante. A estrofe apresenta um paradoxo, como no último verso da terceira. Mais uma característica barroca.
No poema é utilizado letra maiúscula na palavra "Luz", como em um substantivo próprio. Sendo assim, ela poderia ser usada como uma prosopopeia, representando o poder de Deus. Já que a luz vem Sol, uma divindade em muitas mitologias, como a grego-romana e a egípcia. A estrofe "Mas no Sol, e na falte firmeza" passaria exatamente a mensagem do período barroco, a falta de firmeza na religião, devido à Reforma Protestante e a Contrarreforma.
Vinícius Valadão



7 comentários:

  1. A análise do poema "A instabilidade das coisas do mundo"-Gregório de Matos,possui vários elementos que caracterizam o Barroco,por exemplo:dois quartetos e dois tercetos, o trabalho com pessimismo e entre outros .
    Sendo assim , concordo com a análise feita em dizer que o objetivo do texto é passar uma mensagem das mudanças do tempo e as incertezas da vida e da morte.
    Analisando os versos em que a palavra Luz aparece com a inicial maiúscula, podemos dizer que havia uma certa dúvida sobre a religião durante aquela época. A luz seria o poder de Deus, o sol que nasce todo o dia sendo uma divindade e depois da luz vem a noite escura que é quando abandonamos Deus e caminhamos pela escuridão.

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  2. Ótima colocação ao final da análise. Gregório expôs bem os conflitos existentes nos homens daquela época por causa da religião. Muitos deles não sabiam qual decisão tomar por conta da Reforma e Contrarreforma, não sabiam se aproveitavam a vida ou se temiam ir para o inferno. É sempre bom deixar claro o que se passava naquela época porque isso ajuda muito nas interpretações das obras barrocas, como neste poema.

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  3. A análise está muito boa, pelo fato do analista perceber que existe elementos no poema que caracteriza o Barroco, como por exemplo: o trabalho com pessimismo, dois quartetos e dois terceiro e entre outros elementos.
    Concluí que concordo com sua análise. Pois ao ler o poema "A instabilidade das coisas do mundo"-Gregório de Matos, pude perceber que ele se trata de dizer que as coisas estão em constante mudança, e que uma coisa não existiria sem a outra e que nada dura eternamente, tudo um dia se acaba, se desfaz, desaparece, se esquece.
    Um verso do poema que demonstra que nada dura para sempre, eo primeiro da primeiraestrofe que diz: " Nasce o Sol, e não dura mais que um dia".

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  4. Concordo plenamente com a análise do poema, pois pode-se perceber vários elementos que caracterizam o Barroco, por exemplo: 14 versos, 2 tercetos e 2 quartetos.
    O poema relata a passagem do tempo, a instabilidade das coisas e as incertezas da vida. O poeta traz a minha memória um grande personagem filosófico, Heráclito de Éfeso. que disse: "Tudo o que existe está em permanente mudança ou transformação". Gregório expôs muito bem o conflito existente nos homens daquela época por causa da religião, pois temiam o inferno e por conta disso viviam em constante conflito, não sabiam se aproveitavam a vida ou seguiam a religião.

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  5. Este soneto é um dos poucos exemplos da poesia lírica-filosófica de Gregório de Matos, na qual ele expõe seus pensamentos a respeito do mundo. Tem como tema principal a transitoriedade da vida e a inconstância das coisas, como foi muito bem colocado na análise.
    O poema apresenta características típicas do Barroco, como o conceptismo, trazendo o parodoxo no verso: "A firmeza somente na inconstância". Apresenta também uma série de antíteses características do período, como : tristeza X alegria.

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  6. Amei este soneto e a análise, concordando e dando grande ideia do que foi escrito e o que queria dizer. Gregório de Matos mostra como nada dura, nada é para sempre, sempre existindo o oposto, algo que se impõe constantemente tornando as coisas inconstantes.

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  7. Agora sim vocês estão fazendo a interpretação do texto, mostrando suas características e apontando onde se encontram no texto. Parabéns! Gostei muito.
    Observação: ainda há alguns problemas gramaticais nos textos de vocês. Ajudem uns aos outros para que isso não aconteça mais.

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