A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Antes, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Da vossa alta clemência me despido;
Antes, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida já cobrada,
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História:
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
Gregório de Matos
Análise
No soneto acima pode-se destacar a necessidade do eu-lírico em conseguir remissão de seus pecados. O ambiente cristão do período barroco está claramente presente no texto.
Na primeira estrofe, o eu-lírico (pecador) admite que pecou, mas que isso não irá impedi-lo de suplicar o perdão de Deus, pois mesmo cometendo muitas faltas, Ele o perdoa.
Vemos, na segunda estrofe, que o pecador engrandece o poder misericordioso de Cristo tanto nas pequenas quanto nas grandes faltas.
O autor faz referência, na terceira, ao que está escrito na Bíblia, onde a ovelha perdida é o homem pecador. Jesus Cristo teria prazer em perdoar um filho arrependido.
Na última estrofe, o eu-lírico compara-se à ovelha, que precisa ser devolvida ao rebanho e suplica para que o Pastor Divino o perdoe, pois faz parte de sua obra, e se não o perdoasse, esta poderia se acabar.
Luciliana Queiroz