sábado, 15 de outubro de 2016

Barroco - Padre Antônio Vieira

Todo o Amor é Imaginário  ( trecho - sermão )

Os homens não amam aquilo que cuidam que amam . Por quê ? Ou porque o que amam não é o que cuidam; ou porque amam o que verdadeiramente não há . Quem estima vidros , cuidando que são diamantes , diamantes estima e não vidros ; quem ama defeitos , cuidando que são perfeições , perfeições ama , e não defeitos . Cuidais que amais diamantes de firmeza , e amais vidros de fragilidade: cuidais que amais perfeições Angélicas , e amais imperfeições humanas . Logo os homens não amam o que cuidam que amam . Donde também se segue , que amam o que verdadeiramente não há; porque amam as coisas , não como são , senão como as imaginam , e o que se imagina , e não é , não o há no mundo .
                                                                                                                                 
                                                                                                  
                                                                                          Padre Antônio Vieira, in" Sermões "

Análise 

Nesse sermão  , o autor usa o dualismo , ou seja , a metáfora e a hipérbole , exagerando sentimentos e usando a metáfora em diversas partes do texto , por exemplo " Quem estima vidros , cuidando que são diamantes , diamantes estima e não vidros."
Também faz uso ao conceptismo que é, basicamente , um jogo de diversas palavras.
 Vejo que para o autor as pessoas não amam a realidade , elas amam aquilo que elas gostariam que fossem a realidade e ele exemplifica . Ao amar uma pessoa passa - se a idealiza - lá , e não a enxerga - se como ela realmente é , seus defeitos são ignorados , as características não desejáveis são deixadas de lado.
 Trazendo um pouco desse sermão para o mundo atual , vemos que se amarmos alguém pela sua aparência , podemos acabar nos arrependendo .
                             Então , amem a pessoa e não sua aparência .


                                                                                                    Lafânia Xavier 

O Barroco e suas artes


O que é o Barroco ?



O Barroco foi um período do século XVI marcado pela crise dos valores Renascentistas, gerando uma nova visão de mundo através de lutas religiosas e dualismos entre espírito e razão. O movimento envolve novas formas de literatura, arte e até filosofia. No campo religioso, a Reforma (1517) contestou as práticas da Igreja Católica e propôs uma nova relação entre Deus e os homens. 
Uma das propostas desse movimento foi a tradução da Bíblia para os idiomas nacionais, abrindo caminho para novas interpretações das Escrituras, deixando a Igreja dividida e enfraquecida. O poder central da Igreja teve que reagir rapidamente. Em 1563 tem início a Contrarreforma, que tinha como objetivo combater a expansão do protestantismo e recuperar os domínios perdidos. Portanto, a Europa do século XVII reflete a crise religiosa do século anterior. O homem europeu se vê dividido entre duas forças opostas: o antropocentrismo e o teocentrismo. O Barroco é a estética que reflete essa tensão, ou seja, o embate entre a fé e a razão, entre espiritualismo e materialismo.

As Artes Barrocas


O Barroco tem manifestações nas artes plásticas, na música e na literatura. Cada esfera artística tem sua maneira de expressar a dualidade do homem barroco e sua tentativa de fundir valores contraditórios, como o gosto pelas coisas terrenas e a salvação pela fé. 
Na pintura: As cenas representadas eram envoltas em definida oposição do claro-escuro, contavam com a força das cores quentes, da gradação da claridade, todos esses elementos reforçavam a expressão de sentimento das obras que quase falavam aos seus interlocutores. O tema da pintura barroca foi sempre realista, mas a realidade que servia de ponto de partida para o pintor não era só a da nobreza, do clero e da burguesia, mas também a realidade da vida simples dos trabalhadores, camponeses. 
Um pintor brasileiro que se destacou devido às suas obras foi Manuel da Costa Ataíde.
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Assunção da Virgem, Mestre Ataíde.
A  intensidade das cores quentes - “Vênus e Adônis”. Peter Paul Rubens (1577-1640) Espanha
Vênus e Adônis, Peter Paul Rubens.
Nessa obra, podemos observar a intensidade das cores.

A emoção por meio da gradação da claridade - "O Sacrifício de Abraão". Rembrandt van Rijn (1606-1669)
O sacrifício de Abraão, Rembrandt van Rijn.
Podemos observar nessa obra a emoção da gradação da claridade.

Na escultura: As esculturas barrocas mostram faces humanas marcadas pelas emoções, principalmente o sofrimento, evidenciando a violência e o drama. Os traços se contorcem, demonstrando um movimento exagerado. Predominam nas esculturas as curvas e a decoração luxosa, utilizando-se de cores fortes.
O principal escultor brasileiro foi o Aleijadinho, em que suas obras, de forte caráter religioso, eram feitas em madeira e pedra-sabão, os principais materiais usados pelos artistas barrocos do Brasil.

Caminho para o calvário, Aleijadinho

O êxtase de Santa Teresa, Gian Lourenzo Bernini

Escultura Barroca
Narciso, Valentim da Fonseca e Silva/ mestre Valentim


Na arquitetura: Tem como características a extravagância, manipulação da luz, uso do movimento, proximidade do real, aplicação da curva em oposição à ideia estática dos prédios, as igrejas do período barroco são marcadas por abóbadas, arcos e contrafortes, efeitos cenográficos teatrais, mistura da pintura e da escultura, entre outras. A arquitetura barroca integrava o movimento de contrarreforma da Igreja Católica na arte. Entre os objetivos do movimento estava o transporte do observador para a cena demonstrada. Por essa razão que a arquitetura barroca é observada principalmente em igrejas, catedrais e monastérios. Isso ocorria para demonstrar a imponência da arte cristã.

Interior da igreja e mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, 1717

Santuário do Bom Jesus dos Matozinho, em Congonhas-MG, obra de Aleijadinho, 1805

Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência em Salvador, 1703


Na música: Houve mudanças no mundo da música durante o período do movimento barroco, por volta do século XVII. Os ritmos ganham novos recursos e nascem os ritmos instrumentais. A suíte e o concerto surgem juntamente. A partir da influência da música, um novo gênero nasceu: um drama cantado, as notáveis óperas. Ou seja, podemos notar que o movimento barroco enriqueceu o mundo da música naquela época. A música é geralmente exuberante: ritmos energéticos, melodias com muitos ornamentos, contrastes de timbres instrumentais e sonoridades fortes com suaves. 

"As quatro estações", Antonio Vivaldi, importante músico e compositor tardio do barroco.


Na literatura: Nos séculos XVI e XVII não havia ainda condições para a formação de uma consciência literária brasileira. A vida social no país era organizada em função de pequenos núcleos econômicos, não existindo efetivamente um público leitor para as obras literárias, o que só viria a ocorrer mais tarde. Por esse motivo, fala-se apenas em autores brasileiros com características barrocas, influenciados por fontes estrangeiras (portuguesa e espanhola), mas que não chegaram a constituir um movimento propriamente dito.  Nesse contexto, merecem destaque a poesia de Gregório de Matos Guerra e a prosa do padre Antônio Vieira representada pelos seus sermões.
Os textos apresentavam principalmente as seguintes características:

-Dualidades e Antíteses: Conflito entre o corpo e a alma, a vida terrena e a vida eterna, a vida virtuosa e a vida do pecado, a vida e a morte, a razão e a fé. É o conflito entre os princípios cristãos da Igreja Católica e os princípios do Renascimento  e do Classicismo (paganismo, racionalismo, antropocentrismo). O Barroco é uma época de conflitos de princípios opostos, é a época das antíteses, é a época em que se tenta conciliar o inconciliável. A Igreja Católica reage à Reforma Protestante com a Contrarreforma e com a Inquisição, procurando reprimir as manifestações culturais que vão contra as suas doutrinas. Portanto, esse é um período de contradições e de dualidades, onde o homem se vê perdido entre a doutrina cristã e as ideias do Renascimento (Classicismo).

-Cultismo e Conceptismo:O homem barroco valoriza o cultismo, ou seja: a linguagem difícil e rebuscada, cheia de inversões e de jogo de palavras, empregando demais as figuras de linguagem. Ele também valoriza o conceptismo, que está associado ao pensamento complexo, ao raciocínio lógico, ao jogo de ideias. Ou seja: as palavras são rebuscadas e difíceis (cultismo) e as ideias e o raciocínio são complexos (conceptismo). 
A paródia a seguir, publicada no YouTube pelo LÍTERABRASIL, nos diz mais um pouco sobre a literatura barroca e os autores Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira, os mais importantes nesse período.



Fontes: 
http://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-arte-barroca-na-pintura.htm
http://educacao.globo.com/literatura/assunto/movimentos-literarios/barroco.html
http://www.resumosdeliteratura.com/2014/03/resumo-do-barroco-literatura-brasileira.html
https://www.youtube.com/watch?v=9kY6rY72z08

Diana Simen e Vinícius Valadão

domingo, 9 de outubro de 2016

Barroco - Padre Antônio Vieira

Sermão de Santo Antônio (trecho)

"Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção?
Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!"

Padre Antônio Vieira


Análise

A introdução desse sermão vem de um conceito bíblico que diz "Vós sois o sal da terra" (Mateus, 5:13), em que "Vós" representa os pregadores, "sal" é a mensagem cristã e "terra" representa o povo ou os ouvintes. Padre Antônio vai nos dizer que Deus enviou os pregadores, que possuem a mensagem cristã (sal), para que os ouvintes não se deixem levar pela corrupção. Porém, ele deixa claro que os ouvintes são corruptos mesmo havendo pregadores entre eles e isso o leva a refletir sobre a causa dessa corrupção.
Após refletir sobre as possíveis causas, Padre Antônio levanta várias hipóteses ao continuar seu sermão, em que ele nos leva a pensar se a culpa é do pregador ou do ouvinte. " Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites." Com esse trechinho é possível deduzir o que Vieira vem nos dizer sobre o caráter dos pregadores, que fracassam ao pregar a doutrina errada e agem de acordo com seus próprios interesses; e sobre os ouvintes, que não agem de acordo com a doutrina e sim com seus próprios interesses também.
O tema central é as possíveis causas da ineficiência dos pregadores e Vieira utiliza metáforas como, por exemplo: sal (mensagem cristã a ser prega pelos pregadores) e terra (os ouvintes, o povo). Apresenta também contradição: a terra (ouvintes) está corrupta apesar de ter vários pregadores (com ofício de sal, de não permitir que a corrupção se alastre). 
Considero relevante destacar a importância desse sermão (como um todo) que é fazer uma crítica aos vícios dos colonos portugueses que se aproveitavam da condição dos índios para escravizá-los e sujeitá-los ao seu poder, portanto, esse sermão trata de questões jurídicas e humanísticas.

Diana Simen de Freitas