sábado, 1 de outubro de 2016

Barroco - Gregório de Matos

Triste Bahia

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, a tu mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
Gregório de Matos



Análise
O soneto de Gregório de Matos chamado "Triste Bahia" apresenta dois quartetos e dois tercetos, uma característica presente nas obras barrocas.
O poema faz uma crítica à degradação moral e econômica na qual a Bahia se encontrava naquela época.
Enquanto os ladrões e comerciantes eram os detentores do poder político e econômico, os trabalhadores encontravam-se na intensa pobreza.
Como na música de Caetano Veloso -Triste Bahia-, inicia-se com versos de críticas à Bahia, mesmo em épocas diferentes. 
Caio Eiras

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Biografia - Padre Antônio Vieira



Padre Antônio Vieira
Resultado de imagem para padre antonio vieira

Padre Antônio Vieira nasceu em 1608, em Lisboa, e representa, sem dúvida, a maior expressão da eloquência sacra de Portugal e um dos maiores escritores de seu século. Foi para a Bahia, ainda pequeno, onde recebeu ordenação sacerdotal e começou a atuar na Companhia de Jesus, que era um movimento cristão de catequização indígena, que discriminava a escravidão pelos colonos, ao mesmo tempo que também utilizava a mão-de-obra indígena.
Antônio Vieira se destacou por ser um pregador facundo, principalmente no que diz respeito aos seus sermões. A respeito destes últimos, eram impregnados de filosofia, o que o levava a se considerar um filósofo que tratava apenas de assuntos cristãos. Por algum tempo esteve politicamente envolvido com a Inquisição, período no qual foi acusado até mesmo de traição por defender, além dos índios, os novos cristãos, principalmente os judeus. Sofreu condenação, dita como branda, por parte da Inquisição: ficou preso por dois anos (1665-1667) e foi impedido de dar palavra. Vieira usou seu dom da retórica para falar com o papa a respeito desta condenação, o qual o absolve de toda censura ainda existente. Logo após, Antônio Vieira foi a Roma, onde assumiu novamente seu papel oratório. Em 1681, decidiu regressar ao Brasil, onde faleceu, em 1697, no Colégio da Bahia.
 Podemos dividir a obra de Padre Antônio Vieira em:
• Profecias: constituintes de três obras: História do futuro, Esperanças de Portugal e Clavis prophetarum.
• Cartas: são cerca de 500 cartas, que tratam de assuntos sobre a relação de Portugal e Holanda, a Inquisição e os cristãos-novos. São tidos como documentos históricos importantes, já que tratam das diversas situações sócio-políticas da época.
• Sermões: são aproximadamente 200 sermões, com estilo barroco conceptista, que trata o assunto de maneira racional, lógica e utiliza retórica aprimorada. Um dos seus sermões mais conhecidos é o “Sermão da Sexagésima”, o qual é metalingüístico, já que tem como tema a própria arte de pregar. Além deste, temos: Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, Sermão de Santo Antônio e Sermão aos peixes.

Padre Antônio Vieira. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/literatura/padre-antonio-vieira.htm>. Acesso em 30 setembro 2016.

Luciliana Queiroz, Edvânya Borduam e Lafânia Xavier

Barroco - Gregório de Matos

A instabilidade das coisas do mundo
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Gregório de Matos



Análise
Um importante e conhecido poema lírico-filosófico do barroco é "A Instabilidade das Coisas do Mundo", de Gregório de Matos. Nele, é discutido a passagem do tempo, a inconstância da natureza e a do homem, as incertezas da vida que todos nós temos e a instabilidade das coisas. Ainda é composto por dois quartetos e dois tercetos, característicos do barroco.
Na primeira estrofe, o autor apresenta várias antíteses (outro componente presente nas obras barrocas), como vida e morte, claro e escuro, feio e belo, tristeza e alegria. É passado para o leitor nessa parte que a vida é bela, porém não é eterna, e que depois de toda essa alegria vem a tristeza, a temida morte. 
Na segunda estrofe, é apresentado uma série de perguntas sem respostas concretas, que geram dúvidas e incertezas, no maior sentido filosófico possível. Caracterizando as questões que pairavam sobre o homem naquela época.
A estrofe seguinte tem mais uma antítese (alegria e tristeza). E fala sobre a inconstância da vida e da falta de alegria que o indivíduo sente mesmo estando vivo.
O autor afirma na quarta e última estrofe que o fato de existir a vida e a morte é pelo bem da natureza, e que a única coisa certa nessa vida é que nada é constante. A estrofe apresenta um paradoxo, como no último verso da terceira. Mais uma característica barroca.
No poema é utilizado letra maiúscula na palavra "Luz", como em um substantivo próprio. Sendo assim, ela poderia ser usada como uma prosopopeia, representando o poder de Deus. Já que a luz vem Sol, uma divindade em muitas mitologias, como a grego-romana e a egípcia. A estrofe "Mas no Sol, e na falte firmeza" passaria exatamente a mensagem do período barroco, a falta de firmeza na religião, devido à Reforma Protestante e a Contrarreforma.
Vinícius Valadão